Microcontaminantes orgânicos na atmosfera da América Latina
Autor: Amaro de Azevedo (Currículo Lattes)
Resumo
Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) são substâncias tóxicas, persistentes, lipofílicas e, portanto, passíveis de bioacumular e biomagnificar ao longo da cadeia trófica. São semivoláteis e capazes de se transportar por longas distâncias no ar, causando efeitos deletérios à biota e à saúde humana, mesmo distante das suas fontes diretas. Em razão disso, a Convenção de Estocolmo de 2001 restringiu ou baniu o uso de POPs, visando reduzir ou eliminar as liberações intencionais ou não intencionais ao ambiente. A fim de avaliar a eficácia da Convenção, o Plano Global de Monitoramento (Global Monitoring Plan - GMP) recomenda o monitoramento de POPs em diferentes matrizes ambientais. Neste sentido, a rede Latino-americana de amostragem passiva atmosférica (LAPAN) monitora POPs desde 2010 na atmosfera de 13 países empregando amostradores passivos à base de resina XAD-2. Utilizando amostras da rede LAPAN, três estudos foram realizados. O estudo com amostras coletadas entre 2010 e 2013 na América do Sul indicou que os contaminantes estão amplamente distribuídos na região, apresentando maiores concentrações em regiões urbanas, tanto para contaminantes de origem urbano/industrial (HPAs, PCBs e PBDEs), quanto para contaminantes de origem agrícola (OCPs). A avaliação em três períodos consecutivos mostrou que as diferenças nos níveis de contaminação não foram significativas entre os períodos, exceto para HCH e HEPTs. O estudo focado na região metropolitana de Bogotá (2014-2016) mostrou que a contaminação se distribui de forma relativamente uniforme ao longo da área de estudo para OCPs, PBDEs e NFRs (exceto para HPAs, PCBs e CUPs), indicando a influência de aportes de longa distância sobre a região. Em geral, os níveis foram comparáveis aos do estudo na América do Sul, somente mais elevados para PCBs e dieldrin, indicando algum nível de aporte local, e trans-clordano e lindano, com indícios de uso recente. Dentre os CUPs, clorpirifós e tebuconazole predominaram. Por outro lado, o estudo de retardantes de chama na atmosfera da América Latina (2012-2017) indicou que os níveis de contaminação por NFRs foram relativamente baixos e comparáveis ao observados em Bogotá e estudos da rede GAPS na região. A distribuição de todos analitos foi relativamente homogênea (exceto em Concepción, Chile e Puerto Maldonado, Argentina), com influência de tipo de uso de solo somente para PBT e PBBZ (mais elevados em sítios urbanos). Os níveis de contaminação por PBDEs (com prevalência do BDE-47, -99 e -209) também foram relativamente baixos, porém superiores a Bogotá, e com distribuição relativamente homogênea (exceto em Rio Grande e São Paulo, Brasil, e Villa Regina e Puerto Deseado, Argentina), não havendo distinção em relação ao tipo de uso de solo. Com base nestes estudos é possível afirmar que os POPs, NFRs, CUPs e HPAs estão amplamente distribuídos por toda a região da América Latina e que, apesar de não evidenciada em todos os estudos, há uma certa correlação dos níveis com o perfil de uso de solo.